Foto por Christine Ro

Grande vs. Pequenos: Quem são os desmatadores na Amazônia brasileira

Você já parou para pensar sobre quem são os verdadeiros desmatadores da Amazônia brasileira?

De acordo com Christine Ro, em “Large Vs. Small Deforesters In The Brazilian Amazon”, artigo recentemente publicado na Forbes, quem desmata a Amazônia não são as populações empobrecidas em busca de um pedaço de terra. O desmatamento, segundo a autora, está ligado, sobretudo, à ampliação das atividades dos representantes do agronegócio, estando, ainda, muitas vezes relacionado também ao crime organizado.

A partir de conversas com ambientalistas que conhecem intimamente a realidade da floresta, a jornalista chega à conclusão de que é enganoso e inútil caracterizar os desmatadores como pessoas pobres e necessitadas.

De acordo com uma das fontes consultadas, que optou por não se identificar por estar ligada a um órgão federal, “o desmatamento na Amazônia é para a pecuária. Não para os pequenos agricultores que se desfazem de um hectare de florestas para a plantação de mandioca”.

Um dos ambientalistas que concedeu entrevista para a Christine afirmou que, em sua experiência, os desmatadores se apoderam de parcelas substanciais de terra, dado que, na realidade amazônica, o desmatamento está majoritariamente ligado a queimadas de 100 hectares ou mais. O mesmo ambientalista disse ainda que as pessoas responsáveis por essa degradação normalmente trabalham nas forças armadas ou para o governo e assumem os riscos porque sabem que as multas usualmente são perdoadas, tendo sobre sua ação o manto da impunidade.

Philip Fearnside, biólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), afirma que a reivindicação de terras na Amazônia pode ser feita até mesmo de um computador em São Paulo. Segundo ele, a apropriação do território acontece a partir da reivindicação de terras do governo realizada, por vezes, por grileiros, os quais, muitas vezes, utilizam títulos falsos para tanto. Fearnside acrescenta, ainda, que esse modelo de ocupação semi-organizada e em grande escala de terras públicas é algo exclusivo do Brasil.

Além dos já conhecidos meios fraudulentos para obtenção de títulos, Alessandra Nava, pesquisadora veterinária da Fiocruz Amazônia, também relatou para a jornalista ter visto partes da Amazônia sendo colocadas à venda em redes sociais, como o Instagram, mesmo sendo elas terras públicas. Ressalta-se que legislações promulgadas nas últimas décadas facilitam a validação legal dessas reivindicações fraudulentas.

Tem-se assim que o desmatamento na Amazônia brasileira pode até beneficiar alguns poucos indivíduos, mas a verdade é que o crime não minimiza a pobreza existente nas comunidades amazônicas. O estudo “Cutting down the Amazon does not build prosperity for most Brazilians”, que analisou quase 800 municípios da Amazônia entre 2002 e 2019, mostra como estes não apresentam associação entre a perda de cobertura florestal e a melhoria dos indicadores de desenvolvimento econômico, tais como média salarial, saneamento básico e conectividade com a internet.

O desmatamento, configura-se, claramente, como um dos muitos aspectos trágicos intrínsecos à destruição da Amazônia brasileira, a qual, por vezes, tem sido pautada e justificada em prol de um discurso desenvolvimentista que, na realidade, apenas amplia a desigualdade entre aqueles que possuem os meios e os que deles dependem para sobreviver.
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