História de vida de Chico Mendes

Francisco Mendes Alves Filho nasceu no dia 15 de dezembro de 1945 no seringal Porto Rico em Xapuri, estado do Acre. Foi seringueiro como seu pai, começou a cortar seringa com nove anos de idade, no tempo em que predominavam relações sociais e econômicas similares à escravidão na Amazônia. Diferentes formas de injustiça marcavam as relações entre seringueiros e patrões na produção de uma matéria-prima de grande valor comercial e estratégico.

Chico Mendes foi alfabetizado por um refugiado político que vivia nas matas brasileiras e bolivianas e participou ativamente na organização das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) sob influência da Igreja Católica. A partir de 1975 entrou no movimento sindical e ajudou a criar os Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs) de Brasileia e de Xapuri.

Foi vereador pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), participou da criação do Partido dos Trabalhadores no Acre do qual foi líder na Câmara dos Vereadores de Xapuri. Em 1983 foi eleito presidente do STR de Xapuri posição que manteve até seu assassinato. Em 1985 liderou a organização do 1º Encontro Nacional dos Seringueiros realizado em Brasília que resultou na criação do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e da proposta de Reserva Extrativista.

Em reconhecimento ao seu trabalho de proteção das florestas e das populações tradicionais da Amazônia, Chico Mendes recebeu dois prêmios em 1987: o Global 500 da ONU e a Medalha de Meio Ambiente da Sociedade Para um Mundo Melhor (Better World Society).

Chico Mendes
Chico Mendes em sua casa em Xapuri
Denise Zmekhol
Chico Mendes
Chico Mendes recebendo o prêmio Global 500 das mãos do Diretor Executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Mostafa Tolba, na Inglaterra, em 1987
Adrian Cowell
Chico Mendes
Chico Mendes recebendo a Medalha de Meio Ambiente da Sociedade Para um Mundo Melhor em Nova York, em 1987
Better World Society

Chico lutou contra os desmatamentos no Acre e na Amazônia, contra a grilagem de terras e os conflitos fundiários e defendeu a tese de que a floresta vale mais em pé do que derrubada pelos produtos que oferece e pelo fato de ser meio de vida para milhares de pessoas na Amazônia. Para assegurar a permanência dos territórios habitados pelos seringueiros e o uso tradicional dos recursos naturais, organizou inúmeros empates às derrubadas, movimento pacífico que contava com a participação de mulheres e crianças nas frentes de desmatamento.

quote

Meu sonho é ver toda essa floresta preservada, conservada, porque ela é a garantia do futuro dos povos da floresta. Que eu considero a Amazônia uma região rica, tem uma enorme variedade de produtos extrativistas. Ela pode ser preservada e economicamente importante para todos nós.

Chico Mendes

O assassinato
de Chico Mendes

Chico Mendes foi assassinado nos fundos de sua casa em Xapuri, no dia 22 de dezembro de 1988, por grileiros de terra que se viam ameaçados pelas conquistas que os seringueiros estavam alcançando na defesa dos seus territórios. Os assassinos foram julgados e condenados em 2000, um dos primeiros casos onde a justiça foi feita no Brasil. Entretanto, os mandantes nunca foram punidos.

Os desmatamentos e as queimadas ocorridos no verão amazônico de 1988 e o assassinato do líder sindical produziram enorme impacto internacional e sua repercussão no Brasil tornou a causa dos seringueiros conhecida no país. A pressão sobre o governo brasileiro levou à criação de políticas ambientais de controle do desmatamento e à criação das primeiras Reservas Extrativistas entre janeiro e março de 1990.

Assinatura do Decreto nº 98.897
Assinatura do Decreto nº 98.897, de 30 de janeiro de 1990, pelo presidente da República José Sarney, ao lado do deputado federal Fábio Feldman e do presidente do IBAMA, jornalista Fernando Mesquita.

O LEGADO DE
CHICO MENDES

UMA ORGANIZAÇÃO

- Primeiro legado -

O primeiro legado é a criação do Conselho Nacional dos Seringueiros, no dia 17 de outubro de 1985, durante o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, em Brasília, hoje denominado Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).

A ideia de grupos sociais lutando pela proteção da natureza porque dela dependiam para viver, evocada por Chico Mendes em nome de milhares de seringueiros, castanheiros, pescadores e outros grupos extrativistas, mudou o pensamento ambiental no Brasil e no mundo.

UM CONCEITO

- Segundo legado -

O segundo legado é o conceito de valor da floresta em pé, resultado do uso dos recursos naturais por comunidades tradicionais, que culminou no reconhecimento, pelo Estado, do papel social desempenhado por elas na conservação da natureza.

Em consequência do impacto internacional do assassinato de Chico Mendes, o governo brasileiro aprovou proposta do CNS de transformação das áreas tradicionalmente ocupadas em Reservas Extrativistas. O conceito de valor da floresta em pé, defendido por ele, culminou no reconhecimento, pelo Estado, do papel social desempenhado pelas populações extrativistas na conservação da natureza, conceito inédito na época.

UM PATRIMÔNIO
SOCIOAMBIENTAL

- Terceiro legado -

O terceiro legado é a ideia de proteção do meio ambiente por populações tradicionais consolidada no conceito de Reserva Extrativista. Existem hoje 75 unidades, federais e estaduais, uma área de 14 milhões de hectares, representando 2,7% da Amazônia assegurando territórios, recursos naturais, história e cultura a milhares de comunidades extrativistas.

A experiência das Reservas Extrativistas também influenciou a definição de novas modalidades de reforma agrária para a Amazônia como os Projetos de Assentamento Extrativista (PAE) que abrangem mais de 9 milhões de hectares. Em 2000 o Congresso Nacional aprovou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) que incluiu o modelo de Reserva Extrativista e criou também a modalidade Reserva de Desenvolvimento Sustentável.