Incêndio próximo à reserva extrativista Jaci-Paraná, em Porto Velho, estado de Rondônia. - Christian Braga/Greenpeace

Sem informação, multinacionais acabam financiando vídeos com desinformação sobre a Amazônia

Uma recente investigação da organização Ekō revelou que várias empresas multinacionais estão vinculando suas marcas a conteúdos enganosos sobre a Amazônia em vídeos veiculados no YouTube. De acordo com o levantamento, inúmeras empresas estão se associando a canais de caráter duvidoso que propagam notícias falaciosas sobre o contexto amazônico por não terem conhecimento das teses que estão sendo propagadas. 

Empresas como Unilever, Mitsubishi, Panasonic e até a Unicef, foram identificadas no relatório como financiadoras de anúncios em canais que disseminam informações falsas sobre desmatamento e incêndios na região amazônica. Marcas conceituadas como Pão de Açúcar, Quinto Andar, Evino, Localiza e Eucerin também foram mencionadas como anunciantes em vídeos com conteúdo questionável.

Um dos exemplos flagrantes apontados no estudo é de um canal que possui 275 mil inscritos e espalha desinformação aos seguidores, afirmando, entre outros impropérios, que ONGs atuando na preservação ambiental são comandadas por “índios” com objetivos duvidosos, que as invasões a Terras Indígenas são ínfimas e que não há gravidade nos incêndios florestais de 2019. Nesse canal há anúncios da Panasonic e da Localiza.

Essa situação contrasta fortemente com o discurso de responsabilidade ambiental defendido pela Panasonic, que, ao ser abordada pela Folha de São Paulo, afirmou que não estava ciente de seus anúncios veiculados nesse canal e que está revisando suas estratégias de publicidade em mídias programáticas.

Da mesma forma, o canal de um famoso jornalista, com 2,5 milhões de inscritos, contém um vídeo, onde consta um anúncio do Pão de Açúcar, no qual afirma ser impossível queimar a floresta antes de outubro, insinuando que incêndios reportados fora desse período são falsos.

A Unilever, por sua vez, teve anúncios associados a um canal bolsonarista que conta com 5,42 milhões de inscritos. Nos vídeos disponibilizados no YouTube por meio desse canal, insinua-se que a queda no registro de incêndios na Amazônia se deve a um suborno da imprensa, reafirmando, ainda, uma antiga e errática tese de que estrangeiros têm interesses em se apossar da região.

Esses são apenas alguns exemplos que demonstram como anunciantes importantes podem inadvertidamente ser associados a conteúdos nocivos e propagadores de desinformação. O YouTube, ao ser questionado sobre o assunto, afirmou que os vídeos em questão não violam suas políticas, uma vez que permitem debates públicos sobre políticas e impactos das mudanças climáticas.

Entretanto, a organização Ekō critica a política do YouTube e sugere que a plataforma amplie sua definição de desinformação para abranger todo o conteúdo prejudicial que obstrui ações globais contra as mudanças climáticas.

O alerta para as empresas é claro: a escolha cuidadosa dos canais de publicidade é crucial para evitar associações indesejadas e proteger a reputação das marcas. O YouTube oferece ferramentas para bloquear anúncios em determinados canais, mas, é essencial realizar revisões frequentes para garantir a aderência às políticas e valores das empresas anunciantes. 

Uma atitude responsável e comprometida com a verdade é responsabilidade de todos, sendo fundamental para promover ações efetivas em prol do meio ambiente e combater a disseminação de informações falsas.

Fonte: Folha de São Paulo

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