Entre os anos de 2020 e 2022, o projeto Amazônia 2030, iniciativa conjunta de pesquisadores do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Centro de Empreendedorismo da Amazônica, reuniu cientistas para a pesquisa e a sistematização do conhecimento já produzido sobre a Amazônia nas dimensões econômica, humana e ambiental. A pesquisa também contou com a participação do Departamento de Economia da PUC-Rio e do Climate Policy Initiative (CPI).
No relatório, os coordenadores do projeto detalham as consequências econômicas e sociais do desmatamento acelerado, predatório e desnecessário, que varreu, em cinco décadas, um quinto da floresta da Amazônia Legal. O que equivale a uma área correspondente ao território dos estados de Minas Gerais e São Paulo.
A derrubada das árvores, as extensas áreas de florestas remanescentes degradadas por queimadas, extração de madeira, garimpo de ouro e grilagem de florestas públicas, são responsáveis por acirrar os conflitos sociais e potencializar a violência endêmica na região, segundo o relatório.
Evidenciam ainda que, a persistir esse cenário, as consequências para o equilíbrio climático e ambiental da região e do planeta serão dramáticas. Estimam que a floresta remanescente ainda guarda entre 550 a 734 gigatoneladas de CO2, a maior reserva de carbono florestal do mundo, prestando serviços ecossistêmicos vitais para a regularização dos ciclos hídricos.
O engenheiro agrônomo Beto Veríssimo, um dos coordenadores do projeto Amazônia 2030, disse em entrevista ao jornal Estado de Minas que em 2022 a Amazônia queimou o equivalente a um milhão e 300 mil campos de futebol, o que representa 150 toneladas de carbono.
Atualmente, o desmatamento e as queimadas na Amazônia Legal são responsáveis por 48% das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) do Brasil, em paralelo a isso, a região contribui com menos de 9% do PIB do país.
Os pesquisadores constatam que o aumento do desmatamento na região não foi responsável por trazer mais desenvolvimento à região. O economista e também coordenador do Amazônia 2030, Juliano Assunção, afirma ao Estado de Minas que “o período em que fomos mais efetivos no combate ao desmatamento foi exatamente aquele em que o PIB da agropecuária mais cresceu”. Assunção acredita que muito do desmatamento realizado na região não está associado à necessidade de produção.
“Se olharmos as imagens de satélite das áreas desmatadas vamos observar que aproximadamente a quinta parte dessas áreas está abandonada, o que ilustra com muita clareza que se desmatou à toa, por questões que não estão associadas à necessidade de produzir, tanto é que foram abandonadas”, diz ao Estado de Minas.
O relatório do Amazônia 2030 destaca também que a floresta tem enorme potencial para se tornar a base da sustentabilidade da região. Para Beto Veríssimo, “existe um mercado de carbono que paga para você plantar floresta. E plantar floresta é mais rentável do que criar boi”, aponta.
Segunda estimativa do economista Juliano Assunção, a recuperação da floresta amazônica pode aportar para a região algo em torno de 18 bilhões de dólares até 2031: “Temos um estudo com simulação que indica que, sob as regras da coalizão LEAF (Reduzindo as Emissões por Aceleração do Financiamento Florestal), é o que teríamos ao valor de 10 dólares por tonelada de carbono, se reduzirmos o desmatamento até 2030. Esse é um processo, que já deveria estar deslocando a atividade pecuária”.
Beto Veríssimo aponta ainda que “o racional econômico é parar o desmatamento e aquilo que já foi desmatado, recuperar plantando de novo a floresta. E isso é uma ação ambiental, mas é também econômica, pois existe um mercado gigantesco para captura desse carbono”.
Fonte: Estado de Minas