Estudos mostram que, na Amazônia, as estradas abertas para acessar as minas são capazes de provocar um impacto até 60 vezes maior que as próprias jazidas.
Em reportagem publicada na Folha de São Paulo, Sarah Schmidt mostra que a implantação de 242 depósitos minerais na Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca) implicará o desmatamento de 183 km² de floresta amazônica para a instalação de minas. Entretanto, ao considerar o impacto gerado pelas estradas de acesso, a especialista afirma que “outros 7.600 km², uma área equivalente à de sete cidades do tamanho de Belém, seriam desmatados com a construção de 1.463 km de estradas para chegar até elas”.
Os dados foram obtidos por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Queensland, Austrália, que realizaram análises da história da ocupação de terras no norte da Amazônia. O estudo concluiu que a “perda de vegetação nativa decorrente da construção de estradas associadas às minas pode ser de 40 a 60 vezes maior que a causada pelas próprias minas.”
Segundo a engenheira ambiental Juliana Siqueira-Gray, autora principal do estudo, os impactos indiretos não costumam ser avaliados nos licenciamentos e nos processos de abertura de novas minas: “a abertura de novas estradas para atender as minas na Amazônia pode ainda favorecer o avanço ilegal do garimpo, da extração de madeira e da grilagem, além de urbanização descontrolada”, disse ela à Folha.
Para chegar a essa conclusão, Siqueira-Gray examinou as transformações causadas pela exploração mineral nas proximidades da Renca, em Pedra Branca do Amapari e na Serra do Navio, ambas no Amapá, de 2004 a 2014.
Nesse processo, foram elaborados cinco cenários que poderiam prever o impacto ambiental da mineração no local pelos próximos 30 anos, com base na maior ou menor abertura de áreas florestais protegidas para mineração. De acordo com o publicado pela Folha, em um dos cenários se “prevê a exploração de 170 depósitos minerais em Unidades de Conservação de Uso Sustentável, que implicaria uma perda de vegetação nativa de 131 km²; as estradas entre elas causariam um desmatamento de 5.900 km².”
Os pesquisadores da USP consideram que a implantação de um planejamento deve, obrigatoriamente, levar em conta os efeitos regionais da mineração e valorizar áreas de vegetação nativa que serão permanentemente protegidas, sem possibilidade de flexibilização.
Além disso, a mineração, sobretudo a realizada de forma ilegal, em áreas florestais da Amazônia está associada a diversos outros problemas, incluindo a contaminação de rios e nascentes, além do aumento dos problemas sociais e ambientais que colocam em risco a sobrevivência das comunidades indígenas e ribeirinhas na região.
É preciso que atividades desse tipo sejam monitoradas e regulamentadas com um cuidado especial por órgãos governamentais. Nesse sentido, o rastreio da produção mineral por meio de certificação e as ações locais e nacionais para controle do desmatamento são essenciais, sendo, ainda, imprescindível que a legislação ambiental não continue a ser simplificada de modo a favorecer àqueles que cometem ilícitos ambientais na Amazônia.