Jornal Varadouro, do Acre, ressurge na era digital como um veículo alternativo na Amazônia

O Jornal Varadouro, um importante marco da imprensa acreana, está de volta para atuar na era digital e se manter como um veículo alternativo na região amazônica. Criado em 1977, em plena ditadura militar, o jornal tinha como objetivo dar voz aos habitantes da floresta e combater as injustiças políticas da época, em um período marcado pela substituição do extrativismo pelo agronegócio.

Durante os anos de censura e repressão, o Varadouro desempenhou um papel fundamental como porta-voz do movimento de resistência amazônica. Era um espaço de elaboração da linguagem e do discurso local, distanciando-se dos modelos de jornalismo do centro-sul do país. Sua importância ia além da resistência política, buscando lançar pensamentos para o futuro e fortalecer a identidade local.

Na frente da esquerda para direita: Antônio Alves, Suede Chaves, Elson Martins, Silvio Martinelo. Atrás (mesma ordem): Alberto Furtado, Abrahim Farhat, Arquilau Melo e Luiz Carvalho. Foto: Arquivo Pessoal/Elson Martins

Agora, em 2023, o Varadouro renasce na era digital, com uma proposta editorial arrojada, porém, fiel à sua identidade amazônica. O retorno do jornal ocorre em um momento em que a preservação da Amazônia e a segurança das populações tradicionais estão novamente ameaçadas pela ascensão de grupos políticos conservadores, que negligenciam a sustentabilidade e o respeito ao meio ambiente.

O fundador do jornal, Elson Martins, um jornalista com vasta experiência na região, destaca a importância do Varadouro para dar voz aos oprimidos e denunciar questões como desmatamento, invasões de terras e violência contra os povos da floresta. 

A nova geração de jornalistas que está à frente do jornal, com domínio das ferramentas de comunicação atuais, busca manter a tradição de coragem e compromisso com a Amazônia.

Elson Martins e Fabio Pontes. Foto: Ramon Aquim

O Varadouro enfrentou desafios desde sua origem, lutando pela sobrevivência financeira e enfrentando censura e ameaças. Agora, com a versão digital, o jornal pretende ampliar seu alcance, utilizando as redes sociais para dialogar com o público jovem, tanto nas cidades quanto no campo e na floresta. Além disso, o Varadouro buscará estabelecer uma rede de jornalistas na região Norte, ampliando sua cobertura para além do Acre e abordando questões dos estados vizinhos.

A região da Amazônia, embora tenha ganhado visibilidade internacional, ainda é retratada com estereótipos e clichês pela mídia tradicional, concentrada nos grandes centros urbanos. O Varadouro pretende quebrar esses padrões e exercer um jornalismo nativo, produzido a partir da visão dos moradores e habitantes da região. Além de abordar os conflitos sociais, o jornal também busca resgatar a identidade amazônica, que foi desconstruída ao longo do processo de “colonização” da região.

O retorno do Varadouro é um marco importante para a Amazônia e representa a esperança de que a voz da floresta seja ouvida e seus povos sejam respeitados. O jornal enfrentará os desafios da nova era da comunicação digital, mas, manterá sua garra e dedicação em defesa da Amazônia, preservando sua história e sua importância para o Brasil e para o mundo.

Fonte: InfoAmazônia

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