Fogo cresce 1.200% na Amazônia após derrota de Bolsonaro

De acordo com a Folha de São Paulo, satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectaram 3.332 focos de calor nos estados do Amazonas, Acre e Rondônia entre 1° e 16 de novembro. Como base de comparação, no mesmo período, em 2021, foram 253 incêndios na região, indicando um aumento de 1.216%

A área conhecida como Amacro – uma junção das iniciais dos estados – chama atenção por ser um dos principais arcos de devastação da Amazônia. Não coincidentemente, os estados são geridos por governadores bolsonaristas, os quais foram reeleitos no último pleito eleitoral, além de terem apresentado votações expressivas em Jair Bolsonaro (PL). 

Em Rondônia mais de 70% dos votos válidos do segundo turno foram destinados a Bolsonaro. Já o governador bolsonarista, Marcos Rocha (União), foi reeleito em segundo turno mesmo frente às inúmeras denúncias feitas ao longo dos últimos anos que apontam para que parte da floresta amazônica rondoniense tenha virado pasto, decorrência, em grande parte, da leniência do governo estadual para com os crimes ambientais. Esse cenário vem possibilitando que grileiros e madeireiros avancem com mais força sobre áreas protegidas pela legislação. Em Rondônia os satélites do Inpe detectaram 1.602 focos de calor em 2021, ao passo que, no ano passado, foram apenas 84.

No Acre, o cenário de apoio a Bolsonaro se repetiu. Gladson Cameli (PP), também bolsonarista, foi reeleito como governador em primeiro turno. A Folha apurou que, no estado, em 16 dias de novembro, houve 897 focos de calor, conforme os dados do Inpe. No ano passado, levando em conta o mesmo recorte de tempo, foram apenas 7.

No Amazonas, o bolsonarista Wilson Lima (União), reeleito em segundo turno, vem de uma gestão onde se viu um aumento de 61% na taxa de desmatamento entre os anos de 2019 e 2021, de acordo com o apresentado por dados do Instituto Homem e Meio Ambiente (Imazon). No estado, apenas no ano de 2021, foram destruídos 10.362 km² de mata nativa, o que equivale à metade do estado de Sergipe.

O arco de devastação no Amazonas se concentra na região sul, com predominância no município de Lábrea. Após as eleições, no início de novembro, mais especificamente do dia 1° a 16, os satélites do Inpe detectaram 833 focos de calor. No mesmo período do ano passado foram apenas 162 focos.

O aumento expressivo do número de focos de incêndio chama a atenção porque, normalmente, novembro é um mês em que não são registradas tantas queimadas na Amazônia. Isso acontece porque o período é mais chuvoso; os incêndios se concentram mais nos meses de setembro e outubro, período mais seco.

Após o resultado das eleições, no fim de outubro, os estados da Amacro subverteram essa lógica e estão registrando picos de incêndio sem precedentes. 

A Folha de São Paulo questionou os governos e os órgãos responsáveis sobre o aumento expressivo das queimadas, porém, obteve retorno apenas do presidente do Instituto do Meio Ambiente do Acre (Imac), Nelson Sales.

Em nota, Nelson disse que novembro tem sido atípico em 2022. “O período de seca da Amazônia se prolongou. Nos municípios do Acre choveu menos de um quarto do esperado para todo o mês. A estiagem fora de época proporcionou o aumento dos focos de queimadas, usadas culturalmente para limpeza das áreas rurais.”

Em entrevista à Folha, a diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, afirmou “ter notado o aumento desproporcional dos focos de calor, principalmente nos dez primeiros dias pós-eleição, do sudoeste da Amazônia”. Alencar disse ainda que “parte dos criminosos ambientais está aproveitando a continuidade da ausência do Governo Federal e de suas instituições que atuam no combate ao ilícito ambiental”.

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