Origem do Conselho Nacional das Populações Extrativistas - CNS

O Conselho Nacional dos Seringueiros, hoje Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), foi criado durante o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, realizado em Brasília, no dia 17 de outubro de 1985.

Foi um evento histórico realizado na Universidade de Brasília, com a presença de mais de 100 representantes de seringueiros, castanheiros, pescadores dos estados do Acre, Rondônia, Amazonas, Pará e Amapá. Muitos deles saíram da floresta pela primeira vez e levaram vários dias para chegar em Brasília vindo dos lugares mais distantes da Amazônia.

O evento foi uma iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, Acre, uma promoção da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Acre, dos seringueiros do Amazonas, da Associação dos Seringueiros e Soldados da Borracha de Rondônia, com apoio do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), do Ministério da Cultura/Fundação Pró-Memória e da Universidade de Brasília.

A convocação do líder sindical Chico Mendes foi baseada em uma pauta de grande relevância para o momento em que se iniciava o processo de redemocratização no país: reforma agrária apropriada aos seringueiros, educação, saúde e política de valorização da borracha nativa. Foi durante esse evento que o CNS formulou o conceito de Reserva Extrativista como a reforma agrária dos seringueiros tomando como inspiração as Reservas Indígenas.

O Conselho Nacional das Populações Extrativistas hoje

O CNS representa os interesses de trabalhadores que têm suas atividades baseadas na economia extrativista, tais como seringueiros, soldados da borracha, coletores de castanha, açaí, cupuaçu, coco babaçu, integrantes de projetos agroflorestais, extratores de óleo e plantas medicinais, pescadores artesanais e todos os que exploram recursos naturais de forma sustentável.

Nos últimos 30 anos a organização dos extrativistas, sob a liderança do CNS, de associações locais e entidades representativas, conquistou a proteção de cerca de 38 milhões de hectares em diferentes biomas e em mais de 500 unidades territoriais como Reservas Extrativistas Florestais e Marinhas, Reservas de Desenvolvimento Sustentável, Florestas Nacionais e Projetos de Assentamento Extrativista.

Com o apoio de parceiros governamentais e não governamentais, vem estabelecendo parcerias que permitem a implantação de projetos de saneamento e acesso à água, inserção de produtos no mercado institucional, acesso a habitação e energia, apoio a famílias vulneráveis para evitar o desmatamento, acesso à educação básica e ao ensino superior, entre outras iniciativas.

Em novembro de 2019 o CNS realizou seu IV Congresso, elegeu nova Diretoria, presidida pelo seringueiro Julio Barbosa de Aquino, que está no movimento desde o início. A eleição seguiu critérios inovadores com composição paritária de homens e mulheres, representação relevante de jovens e de extrativistas de outras regiões do Brasil além da Amazônia.

ALIANÇA DOS POVOS DA FLORESTA

Originalmente, a Aliança dos Povos da Floresta, formada pelo Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS)e a União das Nações Indígenas (UNI), foi idealizada por Chico Mendes. Na presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (1983-1988) costumava convidar líderes indígenas para reuniões onde debatiam alternativas aos desmatamentos e queimadas.

quote

Em 1982, antes do Encontro Nacional (1985), já havia uma possibilidade de aproximação com os índios. Fui candidato a deputado estadual pelo PT e a gente conseguiu lançar um índio candidato a deputado federal, fazendo uma proposta de aliança dos povos da floresta. Nessa eleição, nenhum dos dois teve resultado positivo, mas foi importante no sentido do estabelecimento dessa aliança. No Encontro Nacional dos Seringueiros, que contou com observadores nacionais e estrangeiros, começou a crescer essa consciência de aliança.Esse encontro determinou que a partir daquele momento seria realizada uma campanha no sentido de se tentar uma aliança com os índios, já que as lutas eram iguais e que muita coisa que aprendemos, nossos costumes na mata, são costumes dos índios. Tínhamos uma herança de índio.

Chico Mendes

Lançamento em 1987

A Aliança dos Povos da Floresta foi anunciada em janeiro de 1987 em Brasília durante o lançamento de Campanha em Defesa da Amazônia, onde denunciaram o aumento dos desmatamentos e a necessidade de uma política de proteção aos territórios. A aliança visava fortalecer os vínculos entre índios e seringueiros, entendendo que havia interesses comuns na defesa da mata e de um modelo de desenvolvimento para a Amazônia que respeitasse seus modos de vida.

Na primeira foto abaixo, da esquerda para a direita: Raimundo de Barros, líder seringueiro, Jaime Araújo, presidente do CNS, Osmarino Amâncio, líder seringueiro, Soeiro Sales Cerqueira Kaxinauá, líder indígena, Chico Mendes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri e José Correia da Silva Jaminawá, jovem líder indígena.

Em agosto de 1988, em seminário sobre a Amazônia na Constituinte organizado pelo Instituto de Estudos Amazônicos (IEA) no Circo da Cidadania, em Curitiba, Chico Mendes (CNS), Jaime Araújo (CNS) e Ailton Krenak (UNI) reafirmaram a Aliança e convidaram as organizações indígenas do sul do país para participar do movimento.

Na segunda foto abaixo, da direita para a esquerda: Chico Mendes, Jaime Araújo, Ailton Krenak, Mary Allegretti e Liderança Indígena do sul do Brasil.

Aliança dos Povos da Floresta
Líderes seringueiros e indígenas mostram para a imprensa uma imagem da NASA com o aumento do desmatamento em Rondônia e no Acre, janeiro de 1987
Ligia Simonian
Aliança dos Povos da Floresta
Lideranças participam de debate sobre a Amazônia na Constituinte
Acervo do Instituto de Estudos Amazônicos (IEA)

Consolidação em 1990

Em março de 1990, três meses após o assassinato de Chico Mendes, CNS e UNI organizaram o II Encontro Nacional dos Seringueiros e o I Encontro dos Povos da Floresta em Rio Branco, no Acre.

II Encontro Nacional dos Seringueiros e I Encontro dos Povos da Floresta, 1989

A Aliança nos dias de hoje

Trinta e três anos depois do lançamento em Brasília, em janeiro de 2020 a Aliança dos Povos da Floresta, foi reafirmada em encontro entre o líder indígena Kayapó Raoni Metuktire, a filha de Chico Mendes, Angela Mendes, e o presidente do CNS, Júlio Barbosa de Aquino, com a presença de mais de 500 lideranças indígenas, no encontro Mebengokrê, na aldeia de Piaraçu, às margens do rio Xingu, no Mato Grosso.

O CNS tem se destacado, também, nas discussões nacionais e internacionais que tratam dos interesses dos extrativistas, no que se refere ao papel das populações extrativistas no cenário das mudanças climáticas globais. Nesse debate e em outros temas estratégicos a Aliança dos Povos da Floresta atua na defesa dos indígenas e extrativistas e de seus territórios.

Aliança dos Povos da Floresta
Ângela Mendes, líder Kayapó Raoni Metuktire e o presidente do CNS, Julio Barbosa, no encontro Mebengokrê, na aldeia de Piaraçu, às margens do Rio Xingu, no Mato Grosso
Eric Terena / Mídia Ninja