O cientista Carlos Nobre no salão da plenária da Cúpula da Amazônia, em Belém — Foto: Rafael Garcia

Carlos Nobre alerta que começar novas explorações de petróleo é ecossuicídio

Carlos Nobre, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, em entrevista ao jornalista Rafael Garcia do Jornal O Globo, falou de maneira pragmática e fundamentada sobre a complexa relação entre a conservação da Amazônia, as mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável.

Nobre, cujo trabalho pioneiro envolveu a simulação dos impactos potenciais do desmatamento e das alterações climáticas na Amazônia, enfatizou a importância de tomar decisões fundamentadas em dados científicos. Ele destacou a incompatibilidade entre a abertura de novas áreas de exploração de petróleo e os objetivos de redução de emissões, salientando que essa contradição se aplica tanto à região da Foz do Amazonas quanto a outros locais.

Quando questionado sobre suas expectativas em relação à Cúpula da Amazônia, realizada em Belém-PA, Nobre expressou otimismo moderado. O pesquisador ressaltou a representatividade ímpar das comunidades indígenas e tradicionais na reunião, porém, enfatizou a necessidade de um acordo abrangente entre elas e o poder público para combater o desmatamento, a degradação florestal e a escalada do crime ambiental na região amazônica.

Nobre também compartilhou sua perspectiva sobre a bioeconomia, uma abordagem que considera fundamental para o futuro da Amazônia, reconhecendo que nem todos os países concordam plenamente com a mesma, mas que é fundamental que se siga um caminho capaz de estimular o apoio financeiro dos países desenvolvidos para impulsionar essa nova economia sustentável na região.

Em relação às metas climáticas, ao comparar o acordo climático de Paris de 2015, que originalmente visava conter o aumento da temperatura global em 2,0°C, com a atual ênfase em evitar um “ponto de não retorno” na Amazônia, Nobre apontou para a necessidade de que sejam tomadas ações concretas. Ele lembrou que as evidências científicas sobre esse risco vêm se acumulando há décadas, destacando a importância de não subestimar essa preocupação.

Quando se trata da ligação entre desmatamento e mudanças climáticas, Nobre delineou uma visão detalhada das interconexões. Ele alertou para a situação crítica no sul da Amazônia, onde a floresta está passando por um processo de autodegradação, transformando-se de absorvedora em emissora de carbono. O pesquisador ainda enfatizou a necessidade urgente de conter as emissões e restaurar áreas desmatadas para evitar um colapso irreversível.

Nobre também sublinhou a importância de uma abordagem holística, propondo um ambicioso projeto de restauração chamado “Arcos da Restauração Florestal”, com o objetivo de recuperar milhões de hectares de áreas degradadas no sul da Amazônia, visando evitar o ponto de não retorno.

Ao abordar a relação entre a Amazônia e a crise dos combustíveis fósseis, Nobre salientou a urgência de reduzir a queima desses combustíveis globalmente, defendendo a posição de não permitir novas explorações de petróleo e destacando a importância de focar nas energias renováveis já disponíveis no Brasil.

A entrevista com Carlos Nobre não apenas oferece insights valiosos sobre a delicada situação da Amazônia e suas implicações globais, mas também reflete sua crença na capacidade de liderança do Brasil na busca por soluções sustentáveis. A ciência, para ele, é um farol que guia as decisões para um futuro mais equilibrado e resiliente.

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