Na última semana, do dia 21 a 25 de novembro, foi realizado o II Encontro da Juventude Extrativista, no município de Mazagão, no interior do estado do Amapá. O evento foi organizado pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), em parceria com o Memorial Chico Mendes, com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS).
O encontro propiciou um espaço para discussão acerca do histórico de luta dos movimentos extrativistas, a importância das políticas públicas do Governo Federal e a necessidade de fortalecimento organizacional dos jovens extrativistas, em especial da Amazônia.
Estiveram presentes mais de 140 participantes e juventudes de todo o Brasil. O evento trouxe a perspectiva de uma transição geracional e contou com lideranças indígenas, caiçaras, pantaneiras e extrativistas. Nesse cenário, não só os jovens marcaram presença, mas também as lideranças históricas, que trouxeram uma visão importante da construção do movimento extrativista.
No primeiro dia foi realizada a mesa “Memória histórica das lutas e da resistência de povos e populações de comunidades tradicionais extrativistas”, que compartilhou um pouco da atuação de cada uma dessas lideranças em seus territórios e a luta pela defesa da vida na Amazônia.
A segunda mesa, intitulada “O legado de Chico Mendes e o futuro dos territórios tradicionais de uso coletivo na percepção da juventude”, contou com a mediação de Bruna Lima, articuladora de Política e Advocacy do IEA, e trouxe um debate extremamente importante sobre o legado de Chico Mendes e sobre como essa luta socioambiental impacta as juventudes do agora.
Bruna Lima destaca que esse debate apresentou “as potencialidades e desafios de formar as juventudes dentro dos territórios para que possam permanecer neles”. Nesta discussão, surgiu a demanda sobre uma educação que fortaleça a identidade extrativista e a necessidade de políticas públicas que auxiliem os jovens nesse processo de escolha sobre permanecer ou não em seus territórios.
De acordo com Bruna, “o que se vive hoje é um movimento de inanição de políticas públicas e esse processo tem feito com que sair do território não seja uma escolha, mas uma necessidade”.
A consolidação desses territórios e o processo de retomada da identidade extrativista é um grande desafio atualmente. “Hoje as trincheiras de luta da juventude ainda são similares a da origem do movimento extrativista, que são a segurança de se ter e permanecer nesses territórios. Mas atualmente existem outras ferramentas. A comunicação tem sido algo constante no debate sobre como a tecnologia é capaz de auxiliar no ativismo do agora”, afirma Bruna.
Nesse sentido, aconteceram também formações com o objetivo de capacitar os jovens para a utilização das mídias sociais como instrumentos de fortalecimento da atuação e da defesa do legado deixado pelo movimento extrativista.
Bruna relatou que estar no encontro e participar de todas as discussões trouxe uma percepção de que, apesar da juventude presente representar territórios diversos, as ameaças e pressões são muito similares entre si. “As ameaças e pressões acontecem através do atual modelo desenvolvimentista e, também, pela falta de políticas públicas nas comunidades. No entanto, os jovens estão em um processo de retomada da identidade extrativista e tem sido muito bonito poder acompanhar esse processo”, conta.
“Esses territórios são espaços de luta, mas também são os espaços que compõem a identidade de cada uma e de cada um desses jovens que se reuniram no II Encontro de Juventudes Extrativistas”, conclui Bruna.