Nas primeiras horas desta sexta, a presença de material tóxico na atmosfera esteve até 30 vezes acima dos padrões recomendados pelas autoridades de saúde. Desde o começo do mês, a qualidade do ar é definida como péssima ou muito ruim. Monitor internacional aponta a cidade como a mais poluída do mundo.
Fabio Pontes, dos varadouros de Rio Branco para Varadouro
Os moradores da capital acreana voltam a conviver com dias terríveis de deterioração da qualidade do ar que respiram. A cada nova manhã, a situação só se agrava, e está praticamente impossível respirar um ar puro em Rio Branco – independente da hora do dia. De manhã até a noite, a concentração de material tóxico está sempre muito acima dos padrões recomendados pelas autoridades mundiais de saúde. Nesta sexta-feira, por exemplo, o dia começou com uma presença de material particulado PM 2.5 de 441 ug/m3 (micrograma por metro cúbico). Ou seja, uma exposição à poluição 30 vezes acima do normal.
Essa foi a medição registrada às 7h:15 a partir do sensor instalado na sede do Ministério Público do Acre, na região central da capital. Desde 2019, em parceria com a Universidade Federal do Acre (Ufac), o MP mantém programa de medição da qualidade do ar. Sensores foram instalados em cada uma das promotorias nos 22 municípios.
Esta sexta-feira, porém, parece ser o dia mais tenso na concentração de material tóxico inalado pelas pessoas. Às 6h:20 da manhã, a presença de PM 2.5 era de 389 ug/m3. A exposição máxima estabelecida pela OMS é de 15 a 20 ug/m3. Ao estar acima de 300 ug/m3, os sistemas de medição de qualidade do ar definem como condição de situação de emergência para a saúde humana, na qual todos os grupos de idade estão sujeitos a ser afetados.
Ontem, outro programa de medição da qualidade do ar, o IQAir, coordenado pela ONU em parceria com o Greenpeace, apontava a capital do Acre como a cidade mais poluída do mundo. Já há alguns dias Rio Branco está nas primeiras posições entre as cidades com as maiores concentrações de material particulado tóxico. Todos os dias de setembro têm sido classificados como de qualidade muito ruim e péssima pelas análises dos sensores.
Há dias os rio-branquenses não têm o privilégio de ver o azul do céu nem o sol em sua cor natural por conta da elevada presença de fumaça na atmosfera. Além da poluição, o Acre ainda convive com elevadas temperaturas que ocasionam ainda mais desconforto.
Todo este caos ambiental pode ser explicado pela elevação quantidade de queimadas e incêndios florestais na região de Rio Branco e municípios vizinhos, como mostrou boletim divulgado essa semana pelo Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (Labgama), da Ufac. Ao todo, foram identificados 94 pontos de possíveis ocorrências de fogo dentro da mata fechada em Rio Branco e municípios do Baixo Acre. A área afetada pode chegar a 2.700 hectares.
Há a suspeita debatida na imprensa acreana de que parte destes incêndios está sendo realizada de forma criminosa e orquestrada. De acordo com a cientista Sonaira Silva, coordenadora do Labgama, o boletim emitido de forma emergencial foi a forma de alertar as autoridades para que providências sejam tomadas, além de apontar aos bombeiros e brigadistas os pontos mais críticos. “O boletim é uma forma de alerta para as pessoas entenderem que nós já estamos na crise, mas a crise está se agravando cada vez mais”, comenta Sonaira.
Em todo o Acre, até o dia 14 de setembro, foram registrados 106.956 hectares de cicatrizes de queimadas – ou seja, a marca deixada pelo fogo. Destes, 2.974 hectares são de incêndios florestais. Do total de área queimada no estado, a capital responde por 9%. É em Rio Branco onde está registrada a maior cicatriz do fogo, com 620 hectares, numa região próxima ao limite com a Reserva Extrativista Chico Mendes.
Enquanto o fogo devastou a vegetação e a nossa floresta – destruindo a fauna e a flora – na cidade o cenário também é de pânico. Pessoas adoecem com tamanha poluição. As máscaras que nos protegeram durante a pandemia da Covid-19 voltaram a ser usadas e recomendadas pela Secretaria de Saúde como forma de amenizar os efeitos da poluição extrema.