Em todo o Acre, segundo Labgama, marcas deixadas pelo fogo chegam a quase 33 mil hectares (Foto: Marcos Vicentti/Ascom/AC)

Em 15 dias, Acre quase dobra o tamanho de sua área queimada

Dados do Labgama e Inpe consolidam agosto com um dos meses mais críticos e propícios para o fogo no Sul da Amazônia Ocidental. Nos primeiros 15 dias, área de cicatrizes de queimadas e quantidade de focos representa a metade do detectado ao longo de todo o ano. Poluição também dispara, chegando a níveis muito acima do tolerado para saúde humana.

Por Jornal Varadouro, dos varadouros de Rio Branco

Entre os dias 31 de julho e 16 de agosto, as cicatrizes de queimadas em todo o território acreano quase dobraram de tamanho. De pouco mais de 17 mil hectares de áreas atingidas pelo fogo até o fim do mês passado, nos primeiros 16 dias de agosto elas passaram para 32.960 hectares. Os dados consolidam agosto como um dos meses mais propícios e críticos para a propagação das queimadas na Amazônia. O cenário de seca severa que tende a se prolongar ao longo de 2024 é motivo de preocupação,pois potencializa a possibilidade de incêndios florestais. O status é de atenção máxima com as previsões de dias ainda mais quentes e secos até setembro.

Os mais recentes dados sobre as cicatrizes de queimadas foram divulgados ontem (19) pelo Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (Labgama), da Ufac em Cruzeiro do Sul. De acordo com o centro de pesquisa, Feijó continua como o município campeão no registro de áreas queimadas no Acre. Até a última sexta-feira, ele respondeu por 24% do total – ou pouco mais de oito mil hectares. Logo em seguida aparecem Rio Branco (13%), Tarauacá e Cruzeiro do Sul, cada um com 10%.

Segundo o Labgama, as duas maiores áreas queimadas registradas foram em Acrelândia (218 ha) e em Feijó (215 ha). Quanto a casos de incêndios florestais, o único caso detectado até o momento permanece sendo dentro do Projeto de Assentamento Bonal, que abrange os municípios de Rio Branco e Senador Guiomard.

De acordo com levantamentos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), por meio de seu programa BD Queimadas, até o dia 19 de agosto o Acre registrou 1.541 pontos de calor nas análises de satélite. Os quatro municípios com mais incidência de fogo são Feijó (347 F), Tarauacá (198 F), Cruzeiro do Sul (182 F) e Manoel Urbano (137 F).

Quando se compara o registro de queimadas no estado em 2024 com igual período de 2023, a quantidade está 88% superior. O mês de agosto, conforme o Inpe, responde por mais da metade de todas as ocorrências de queimadas observadas no Acre em 2024.

Todo este fogareu em territórios acreano acontece mesmo com as fiscalizações e campanhas realizadas pelo governo para que as pessoas evitam o uso do fogo no momento crítico por que passa o estado. O Decreto 6.514 prevê a aplicação de multas de R$ 1 mil por hectare queimado sem a devida autorização. Em muitos casos quase nunca é possível identificar os autores dos incêndios em áreas rurais.

Ao longo do ano, em toda a Floresta Amazônica brasileira, o monitoramento do Inpe já captou 42.302 pontos de queimada. Os estados do Pará (11.568 F), Amazonas (10.291 F) e Mato Grosso (9.311 F) ocupam as primeiras posições no ranking do fogo.

Com queimadas fora de controle, cidades acreanas chegam a níveis alarmantes de poluição; concentração de poluentes fica até 3 vezes superior ao recomendado para saúde humana (Foto: Juan Diaz)

Céu de fumaça

Toda a devastação ocasionada pela ação do fogo tem como uma de suas consequências a deterioração da qualidade do ar nas cidades amazônicas – muitas delas já afetadas pela falta de chuvas e a baixa umidade do ar. Capitais como Rio Branco, Manaus e Porto Velho vivem dias de poluição extrema, afetando a saúde da população.

No Acre, segundo o Labgama, Manoel Urbano teve, até o momento, 25 dias de 2024 com a qualidade do ar fora dos padrões recomendados para a saúde humana – ou seja, com elevada concentração de material particulado (PM 2.5) oriundo das queimadas. Conforme normas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a exposição máxima (por 24 horas) ao PM 2.5 deve estar entre 15 a 20 ug/m3. Em Manoel Urbano, essa concentração ficou superior a 60 ug/m3.

A capital acreana, de acordo com o laboratório da Ufac, é a cidade com o ar mais contaminado pelas queimadas. O pico da poluição aconteceu no dia dois de agosto, quando a concentração de material particulado PM 2.5 ficou perto dos 80 ug/m3 – uma poluição três vezes superior ao recomendado pela OMS. Um ar extremamente poluído que leva centenas de pessoas aos hospitais por problemas respiratórios.

* Esta matéria foi publicada originalmente no jornal O Varadouro, leia o conteúdo na íntegra AQUI

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