A Floresta Estadual do Antimary, em Sena Madureira: alvo de invasores e frileiros (Foto: Divulgação/PF/AC)

Acre tem três das dez áreas protegidas mais desmatadas da Amazônia no primeiro semestre

Após ocupar as primeiras posições no ranking do desmatamento e queimadas durante o período Bolsonaro/Gladson, a Resex Chico Mendes apresenta redução de impactos – mas ainda preocupa. Localizadas na zona de influência da BR-364, as FES do Antimary e do Rio Gregório se destacam negativamente no aumento da devastação. Em toda Amazônia Legalárea desmatadas em UCs foi de 93 km2 no primeiro semestre de 2024.

Por Fábio Pontes, dos varadouros de Rio Branco, para O Varadouro

Apesar de apresentar uma redução significativa em suas taxas de desmatamento desde o ano passado, isso após os registros recordes de devastação florestal durante o primeiro mandato do governador bolsonarista Gladson Cameli (PP), o Acre tem três das dez unidades de conservação com as maiores áreas derrubadas no primeiro semestre de 2024. São elas: a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, a Floresta Estadual (FES) do Antimary e a FES do Rio Gregório. Cada uma delas perdeu um quilômetro quadrado de Floresta Amazônica entre janeiro e junho.

É o que apontam os dados do mais recente boletim do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), divulgado nesta quarta-feira, 24, pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Mesmo ainda sendo impactadas pela derrubada de suas coberturas vegetais, as UCs no bioma amazônico parecem estar, de fato, mais protegidas no atual momento político do País.

Segundo o Imazon, o desmatamento acumulado nas áreas protegidas no primeiro semestre de 2024 foi o menor da última década: 93 km2 – redução de 18% quando comparado com o mesmo período do ano passado. Os números ainda são altos, levando em consideração que tais áreas são protegidas por lei, e cujo impacto da ação humana deveria ser o menor possível (ou até zero, se possível).

“São dados positivos para a Amazônia, a redução do desmatamento nas unidades de conservação e terras indígenas é muito importante. Para que o desmatamento continue em tendência de queda, é necessário manter o ritmo de fiscalização nas áreas protegidas e focar nas regiões que ainda estão sob forte pressão ambiental. Qualquer redução nas ações de combate e controle podem acarretar no aumento da devastação nestes territórios novamente.”, afirma Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon

Os números do Imazon ainda mostram a Resex Chico Mendes como uma das UCs mais impactadas pelo desmatamento na Amazônia Legal. A unidade federal chegou a ocupar as primeiras posições do ranking de desmatamento e de queimadas durante o governo Jair Bolsonaro e o primeiro mandato de Gladson Cameli, que, em sintonia, executaram, com maestria, a política de deixar a “boiada passar”.

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre 2019 e 2022 a Resex Chico Mendes registrou as piores taxas de desmatamento da série histórica, iniciada em 2008. Foram 307 km2 de mata devastada. O desmonte das políticas ambientais promovido pela dupla Bolsonaro/Gladson no período foi o principal fator a aumentar o impacto sobre a UC.

No ambiente político, a apresentação do PL 6024, no Congresso Nacional, pela bancada da motosserra fomentou a comercialização de lotes por parte dos moradores da Resex. Com a retomada da normalidade política do país, a UC apresenta queda no desmatamento. Em 2023, conforme o Inpe, ele chegou a 34 km2, contra os 83 km2 de 2022.

Um fator a chamar a atenção, mas não surpresa, são as taxas de devastação nas UCs estaduais, que até então estavam intocadas. Localizada nos territórios do Bujari e de Sena Madureira, a FES do Antimary já vinha registrando elevados índices de devastação desde 2019. Invasões por grileiros foi o principal fator de impacto. Em agosto do ano passado, a Polícia Federal realizou operação para desarticular quadrilha que desmatava e grilava áreas da FES Antimary.

Mais à frente, em Tarauacá, a FES do Rio Gregório também é influenciada pela chegada de “novos moradores” e o roubo de madeiras. A região é uma das mais ricas em espécies de alto valor comercial e concentra robustos planos de manejo madeireiros. Ambas as UCs foram criadas como uma zona de amortecimento para amenizar os impactos da pavimentação da BR-364 entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul.

Todavia, a rodovia tem sido o principal vetor para arrastar as zonas de desmatamento no estado, até então concentradas no Vale do Acre, para os vales do Purus, Tarauacá/Envira e Juruá. Não por acaso, os municípios de Feijó, Sena Madureira, Manoel Urbano e Tarauacá são os que registraram as maiores taxas de desmatamento e queimadas no período Bolsonaro/Gladson. Todos são “cortados” pela BR-364.

Pavimentação da BR-364 entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul deslocou a zona do desmatamento do leste para o oeste do Acre, impactando até áreas protegidas (Foto: Juan Diaz)

Desmatamento em Rondônia

Assim como o Acre, Rondônia também possui três UCs entre as 10 mais desmatadas no período. Segundo o Imazon, são elas: a Estação Ecológica Samuel, a Resex Rio Preto-Jacundá e o Parque Nacional Mapinguari, que também abrange o território do Amazonas. Pela primeira vez a Resex Jaci-Paraná, UC estadual, está de fora do topo. Também durante o governo da boiada ela registrou elevadas taxas de devastação.

Junto com outras áreas protegidas de Rondônia, ela é alvo constante da bancada ruralista na Assembleia Legislativa com projetos de lei para sua desafetação e até extinção. O próprio governador Marcos Rocha (União), costuma, por decreto, extinguir unidades de conservação estaduais. A dois dias do segundo turno das eleições de 2022, Rocha expediu decreto extinguindo a Estação Ecológica Soldado da Borracha, localizada em Porto Velho e Cujubim.

Período seco elevada desmatamento do bioma

Desde abril de 2023, a Amazônia apresentava uma baixa consecutiva no desmatamento, tendo 14 meses seguidos de queda. Porém, os dados do mês de junho de 2024 mostraram um crescimento de 10% na derrubada se comparado com o mesmo mês de 2023, indo de 361 km² para 398 km². Um dos principais fatores a explicar este aumento é a chegada do período seco, o verão, quando se intensificam as derrubadas e queimadas nas áreas rurais.

“O período mais seco do calendário do desmatamento ocorre entre os meses de maio a outubro, historicamente os valores são mais altos durante esses meses porque o clima propicia a prática do desmatamento”, diz Larissa Amorim.

Os estados que mais contribuíram para a destruição de floresta em junho de 2024 foram Amazonas (35%), Pará (26%) e Mato Grosso (15%), concentrando juntos 77% do total detectado na Amazônia Legal. Cinco dos dez municípios que mais desmataram estão localizados no Amazonas, e outros três no Pará.

Apesar do cenário do mês de junho, no acumulado do primeiro semestre, 2024 registra a menor área desmatada desde 2017, com 1.220 km². Quando comparada com o ano anterior, a diminuição chega a aproximadamente 36%. Mesmo reforçando a tendência de queda, o número ainda representa 670 campos de futebol devastados por dia.

*Este conteúdo foi publicado originalmente no site O Varadouro. Leia o conteúdo na íntegra AQUI.

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