Com informações da Folha de São Paulo
A seca extrema que assolou a Amazônia central em 2023 deixou marcas profundas, impactando até mesmo áreas superpreservadas da floresta. Segundao dados do Observatório da Torre Alta da Amazônia (Atto), projeto conjunto entre Brasil e Alemanha, a região enfrentou condições climáticas extremas, com temperaturas máximas atingindo níveis preocupantes
Durante o segundo semestre do ano passado, a seca atingiu seu ápice, resultando na pior crise registrada na história recente da Amazônia. Comunidades ribeirinhas e indígenas foram isoladas, rios e igarapés secara, e incêndios florestais se intensificaram.
As medições do Atto revelaram que a temperatura média do ar em setembro de 2023, a uma altura de 81 metros, foi de 35,98ºC, com picos de 38ºC durante o auge da crise. Além disso, a umidade do ar atingiu apenas 20,14% no mesmo período, contribuindo para o aumento das temperaturas do solo.
Comparando os dados dos últimos dez anos, os valores registrados em 2023 foram considerados extremos, superando até mesmo os picos observados durante o El Niño de 2015, outro fenômeno climático que afetou a região.
Cléo Quaresma Júnior, pesquisador do Atto, fala para a Folha de São Paulo que as altas temperaturas comprometem o funcionamento adequado das folhas das árvores.
“Com essas temperaturas[na altura ou acima da copa das árvores], a folha não funciona bem. A árvore transpira, e o nível de evotranspiração é muito alto”, afirma Cléo.
A pesqusiadora Hella van Asperen, que cuida do Atto de medições de concentração de gases de efeito estufa, afirma também À Folha que os efeitos do El Niño ainda estão presentes.
“A floresta não teve tempo de se recuperar, e está chovendo menos. Vai ser um ano difícil”, diz Asperen, que atua no Amazonas. Ela também é pesquisadora de pós-doutorado do Instituto Max Planck de Biogeoquímica, na Alemanha.
Localizado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, no Amazonas, o Atoo tem sido fundamental para monitorar as condições climáticas da região desde 2012. Com suas torres e equipamentos espalhados por uma área de 20 km na reserva, o projeto continua a ser uma importante ferramenta para entender os desafios enfrentados pela Amazônia central.